quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Loaded gun...


Sempre?
Quase...
E o que acontece quando está descarregada?
Respiro fundo e a complexidade retorna aos eixos.A volúpia afunda-se na vertigem intermitente da normalidade sempre finda.
Sempre... Não é sufocante?Digo...constantemente a arfar por um alvo em movimento?Com os beiços irrigados e titubeantes da besta a babarem lânguidas gotas de um muco que ensinará caminho para outros como tu?Oh Deus,uma visão dantesca tenho de ti,como aquando do primeiro vislumbre que o lobo permitiu ao Capuchinho,estou certa.
Há mais em mim que animal,há o coração negro de um homem.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

minha capa de artifício...


entenda-se que estou surdo perante a composição acromática de tecido encefálico projectado em eco
já reparei que nunca em mim palavras quebram a monotonia egocêntrica pela qual sempre estou absorvido
é deprimente e deprimente é também aquando hábito cria uma indistinção e a memória se limita a apagar experiência atrás de experiência,implodindo sobre si mesma infinitamente
a massa estética que de muitas formas desprezo,acaba por se iluminar perante uma substancia inerte,obsessivamente escamoteada

imolada pela felicidade

terça-feira, 30 de setembro de 2008


livra-se da gruta,sai uma semente
tudo é felicidade,nada é deprimente
tudo é regaço,regaço tão quente
de braços abertos para toda a gente
de braços abertos,sempre inconsciente
sem contar os passos,caminhas em frente
de sorriso aberto e a face tão quente
deserto imponderável,um trapo de gente
de sorriso aberto caminhas em frente

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Nota para ensandecidos...


"A fechadura aceita suspender a nefasta incompletude e a chave escorrega com viscosidade,dando duas voltas acompanhadas por uma triste e seca sinfonia de estalidos,renascendo de novo para a luz,engolida de novo pelas trevas num processo antagonicamente semelhante mas incompleto.Com um movimento brusco parto a chave e com outro,maquinal irreflectido e estúpido,atiro-a pela janela de guilhotina que se abria num gesto de perversa cortesia.
Pronto."-Disse ele enquanto o sofá rústico acomodava o seu rabo e os seus olhos fixavam,psicadélicos,a grainha imagética que se compunha com folículos desorientados de um pó quezilento e alérgico.
"Pronto.
A criança simiesca houvera trepado pela janela e prostrara-se,encardida e tinhosa e luminosa como um santo cristão aquando representado numa qualquer fita de cinema,à minha frente,muda.Por mim que ficasse."-E ficou.Mas não tardou a tentar narciso.A desafiar-lo,qual pássaro ainda humedecido pelo ocre da criação,a abandonar o seu ninho.
"13 dias,23 horas e poucos minutos.Foi o tempo que demorei a ser convencido.Tempo que me parecia cada vez mais viscoso e que se rarefez numa explosão perceptiva que me emocionou.-Para a janela,para a janela.-Dizia-me o seu ar ingénuo e urgente,de uma ingenuidade tão melancólica que seus olhos lembravam fontes pungentes de luminosidade húmida."
-A pobre criatura lá pôs a cabeça entre a janela,oportunamente em guilhotina,devo dizer,e a decrépita representante de uma infância defunta lá deu,metaforicamente e dolorosamente com a janela no pescoço do triste até quebrar.E pronto,digo eu agora,lá se iluminou mais um ensandecido,então pois,para todos os outros,que lhes sirva de exemplo.

domingo, 7 de setembro de 2008


e porque se a confusão partisse de dentro de mim,não seria confusão de todo,era uma certeza.é uma certeza.ela mais não é que uma mescla de certezas que explodem em surdina quando se tocam,muito mais vossas do que minhas,quando me queres tocar e eu quero trincar as framboesas cor de carmim que trazes fincadas nos dedos e eu penso,oh como penso nos teus lábios quando as desejo morder com paixão,beijar com paixão.o meu mundo devia ser simples,não deixes que o teu tímido sorriso o complique,não deixes de sorrir

terça-feira, 5 de agosto de 2008

a rapariga que me constatou o outono...


E enquanto eu estava sentado no meu sofá vermelho no meio da relva,bem longe de todas as árvores e de tudo que fosse qualquer coisa,vejo uma rapariga a vir bem na minha direcção,pronta a dizer-me o que quer que me quisesse dizer.
Trazia,preso por uma corrente,um grande porco cinzento,majestoso e altivo,tanto que por momentos não percebi quem conduzia quem.
Ela vestia uma túnica branca com uma renda confusa e uma gargantilha negra com vários e cristalinos diamantes em falta.O seu sapato de verniz,grotescamente tortuoso,sondava,desnecessariamente,a terra por onde passava.A própria túnica parecia querer abandona-la,desfalecendo dramaticamente e permitindo que o ar lhe beijasse um seio,que por isso mesmo se mostrava hirto.
Parou a meio do caminho.Tirou da malinha de mão um baton que espremeu cinicamente de encontro aos seus lábios finos.Continuou.
Quando me pareceu que olhava para além de mim e iria passar sem nada me dizer,Parou.
O porco colocou-se de perfil,afilou-se como os cães de caça,propositadamente para a pose.
Ela olhava-me agora no fundo dos meus olhos.
O seu rosto entrara numa terna maresia de comoção.
-O porco aqui és tu.-Disse-me.
O seu animal olha-me com desprezo.
Uma lágrima azul cai-lhe do rosto e perde-se na finitude do meu olhar.
Olho para o chão e tento encontrar,pelo menos sorver alguma da substância daquela lágrima.
Olho de novo e já lá não está,nem ela nem a lágrima.
Respondo-lhe:
-Pois sou,pois sou.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

coabitação...

e como vejo que os dois juntos não se dão
numa vibração alusiva a todos os cabos que não se interligam
e perco-me no meio deles
como sua a minha parte insípida,na ânsia de conter a pérola da ostra
é desconfortável

acho que ela se enoja com o meu saco de carne demasiado ridículo e apegado
mas não tem a certeza da vida eterna
como todos os sacos de carne,também ela se conforma

sexta-feira, 11 de julho de 2008

relativizando contextualmente a importância dos entes superiores...


para a minha ténia de estimação
eu sou uma divindade
alimento o seu coração
de merda e trivialidade

embriagada com a percepção
de livre-arbitrariedade
não farei qualquer concessão
em lhe cagar a verdade

terça-feira, 10 de junho de 2008

contagem permanente...


tantas pessoas no mundo
uma acabou por morrer
e outra e outra e outra e outra
e eu continuo feliz
não me podes culpar por eu continuar a sorrir

não te posso culpar por continuares a matar
tantas pessoas no mundo
o dominó aproxima-se
se queres saber não quero saber

tantas pessoas no mundo
e que diferença faz?
e outra e outra e outra
todas sublinhando o seu sentido

quero sublinhar o meu sentido
qual sentido?
que diferença faz?

quinta-feira, 5 de junho de 2008

penthouse corpse...


O complexo aroma contrastava com a sofisticação simplista do imobiliário e arquitetura do local.Os metais e os granitos caros com o calor interior comum a qualquer ser humano,tornando o bafo visível e denso,mesmo no pico do verão.
No sofá de couro vermelho lá estava prostrado um corpo.Cabelo loiro,olhos fechados,sereno.A casa,essa por sinal mostrava tudo menos indícios de serenidade,nos últimos dias que correram.Confetis,garrafas de champanhe e roupa interior tal como cinzeiros a transbordar e notas enroladas por todo o lado.
A casa como prolongamento do ser,estava fria,mas sobreviveria.

terça-feira, 27 de maio de 2008

mestiçagem de essências...

Faz uma incisão.Procura uma conexão.Alimenta-te do meu coração.Alimenta também a sensação...Ordena os sentidos...Sorve os sonhos perdidos.Vasculha-me bem.Perfura-me o cérebro também.Sente o sangue quente a escorrer.Revira os olhos de prazer.Corta a jugular.Vê os fluidos a misturar.Começa a contar...a complexidade a prosperar...Sustém a respiração.Anda comigo de mão dada nesta solidão.

domingo, 27 de abril de 2008

constante abstração...

Vejo em ti que não te conheço
Uma ondulante sensação de desconexão
Vejo em ti que não te conheço
Clara mentira

Desprezo-te?
Clara mentira
A verdade é tão somente um mar de abstrações que perpetua após a constatação da mentira

terça-feira, 8 de abril de 2008

o último prego...


Sinto cavalos a galopar,golfadas profundas de sangue a ferver e sinto-me a tremer num mantra doentio.Um assobio percorre o meu cérebro de fio a pavio.Os meus olhos só a ti enxergam,visão de túnel,afunilada na tua pessoa quase desgraçada.Cerro os dentes,fecho as portas da responsabilidade,a mente fechada e encharcada no instinto animal.

Ponho a mão no teu peito...depois no meu,ambos mais calmos.

Vemo-nos no teu funeral.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Dependência...


O amor mais não é do que uma alegre caminhada na corda-bamba lambida pelas chamas rubras do inferno.A dois...claro.
Tu e eu...Não sabes quantas vezes te desejo empurrar enquanto sorrio para ti.Porém não suportaria ver a tua alma sublimar.Ficaria perdido na corda-bamba.De olhos esquecidos nas chamas que bailavam por debaixo de mim...que me seduziam por ver nelas os contornos do teu corpo.

A tua dependência acabaria por me arrastar.

sábado, 15 de março de 2008

red light...


Todos os dias,ao acordar,tenho a refrescante e ao mesmo tempo frustrante sensação que a palma da minha mão está aberta sobre o teu peito.Dentro dele está o teu coração.Sinto-o.E dentro do teu coração,um homem que transborda de alegria.Subitamente o teu peito queima a palma da minha mão e eu retiro-a.
Ao entrar na repartição os meus gestos mecânicos apoderam-se de mim.Não gosto de nenhuma daquelas pessoas.Sinto uma distância tremenda que tento conter mas que por vezes deixo sair às golfadas.Odeio quando se aproximam e encetam conversas circunstanciais que levam sempre à perda de tempo.
-Então tudo bem consigo?A sua família como vai?Tudo bem com a sua mãe?
Às vezes cometo gaffes.
-Tudo bem...como vai a sua mãe?.........Oh desculpe...eu não queria...eu não me lembrei...eu peço desculpa.
E depois tenho que fingir que partilho algum do seu desgosto e cada um vai à sua vida.
Pelo menos ganhei uma defesa...é raro prestar atenção ao que as pessoas me dizem...95% é lixo,mas e os outros 5%?O que realmente importa às vezes também se perde na insipiência de tudo o resto.Foi o que aconteceu connosco?
Sei perfeitamente porque ri o homem que habita no teu peito.
Ao deitar-me vejo-te numa rua negra,cuja perspectiva aponta para o insondável infinito.Caminhas para lá com as pernas abertas e a tremer muito,pintando o caminho por onde passas com um fino rasgo de sangue.Mesmo danificada continuas a seguir em frente.Porque é que eu não consigo?

terça-feira, 11 de março de 2008

Caro Data Vermibus...


Tenho vindo a alimentar este estranho hábito.Durmo com um cadáver,todos os dias.Todos os dias acordo de costas voltadas para ele e sempre me surpreendo com aquela frieza radiante.Já me devia ter habituado e conformado e tê-lo jogado na rua e ter voltado para a cama.Bem posso sonhar com uma casa vazia.
Às vezes esqueço-me dele,esqueço-me de o beijar,de o abraçar e de lhe dar o conforto que sempre encontra quando invade o meu leito.Quando assim é,esguicha-me com o pouco sangue que vai restando,gélido como...Por vezes alucino com o seu calor,mas o frio também queima.Deve ser isso,não pode ser outra coisa.
Tenho que voltar para a cama,o cadáver espera-me.

domingo, 9 de março de 2008

aquele melão por favor...


Entrei no supermercado,sabia que a fruta estava em promoção.Precisava para a minha salada de somente um melão.Era o ingrediente que faltava e para mim o mais importante.Lá fui eu passando os olhos de estante em estante...até que me deparei com uns de casca bem brilhante.O preço era convidativo.Apalpei-os e não me agradou.Eram rijos.E o sabor do interior não daria com certeza a alma necessária que eu queria para a minha sobremesa.Perscrutei mais um bocadinho e lá ao fundo no cantinho vejo um melão pálido,com má cara e mirradinho.Foi àquele que me dirigi.Era mais caro mas fiz a minha prova,e conclui...era aquele melão ali,e não o outro que daria à minha salada uma alma nova.

sexta-feira, 7 de março de 2008

limbo...


O coração palpita quando vejo o pecado,lá bem no fundo.
Reparo como fumega a cada passo.O tempo sustém toda a respiração em seu redor e o espaço esforça-se por diminuir a densidade das moléculas.O seu sorriso rasga-se no ar em tons de vermelho e branco,ao sabor de um pincel manso.
Minha mensageira da alegria.
Lágrimas tombam a teus pés e desapareces.
Estás cada vez mais viva dentro de mim.Aqui dentro os nossos corpos rebolam na relva verde pontilhada por morangos...e ao longe um bando de corvos.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Luz tépida...

Perco-me.
Perco-te.
Sinto os pêlos eléctricos.Parece que querem a todo o custo evitar tocar o meu ser.
Um de entre vários.
O único.
Reparo nos traços grossos,a carvão,que delimitam a realidade.
Pacientemente furiosos.
E há de tudo.
Mais e melhor.
Mais é pior.
Mais...