quarta-feira, 18 de março de 2009

percussão...

A tentação de desaguar nos teus lábios com brilho fulvo. Sentir a saliva amaciar o púlpito para onde me guias, ribombante.
Uma convulsão morna e profunda que ressoa no céu da minha boca com travo a mel.
Sou todo eu.
És toda tu.
E no encontro das línguas as nossas individualidades dançam.

Sibilam por entre o emudecimento da paixão.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Vivendo a intensidade do menosprezo no canto do quarto, soltando-se de si convexa, com a face macia pousada no ombro quebrado, um coração que explode por dentro do peito ao ritmo das lembranças de vidro crepitante. A palma de cal, os olhos de lama fixos na nuca, as unhas; algumas dobradas para cima, outras cravadas no soalho negro. O sorriso pintado nos lábios, róseo-cristalino, puro e eterno.
Eles que não paravam de bailar à frente dela, eles que não paravam de copular à frente dela,ganindo por felicidade, expergindo fluidos de paixão que se lhe colavam às pálpebras. Nem pestanejava. E o sorriso mantivera-se sempre. Mas a carne não parava de se afundar e reaparecer untada em glória, quando logo o cheiro desaguou pelos poros da lascívia. O orgasmo trepou louco pelas paredes daquele quarto, como um animal acabado de sair de um opressivo e violento cativeiro; uivava, fincava as garras em tudo o que era palpável, libertava um muco peganhento, caminhava cego pela liberdade. O quarto ressoou, as paredes abriram fendas profundas e húmidas. Eles por fim pararam.
Vivendo a intensidade do menosprezo no canto do quarto, lavada em lágrimas, e armada com o seu sorriso róseo-cristalino, puro e eterno...