sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Laura não é minha irmã...


O vento soprava a indiferença agitando a metáfora no céu que confluía em massas difusas.
Faz um corte transversal no meu crânio e diz-me o que vês?
Peço-te por favor que me expliques. Enquanto altero o meu estado e me perco em indefinições. O mesmo vento continua a impulsionar o tempo e eu sentada. Nem lágrimas nem nada. E tudo o que me pesa... antes fosse só a gravidade. Enquanto o horizonte permanecer, eu permaneço sentada. Com os dedos enterrados na relva e as formigas a deflorarem-me a carne presa aos ossos sem nexo de causalidade. Não consigo olhar para o rio sem que o azul me penetre o juízo. Aprendi a não julgar sendo julgada, porque com demónios é mais fácil ser tolerante.
E não olhes para o meu perfil como que se visses para além do quadro, não sou a tua irmã. Não partilho nada, a não ser o espaço desta cadeira em que continuo sentada.
Eu não sou a tua irmã.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

quadro em branco ,sem título...

Uma e outra vez ,quando ouço o barulho estridente de uma corda que ressoa por entre as moléculas ,criando um efeito de cascata. Quando roo as pernas do banco que me sustenta ,enquanto olho para o lado e as lágrimas caem sem chegar a tocar na tua pele pálida e morta ,de encontro aos meus lábios. Ouvi dizer ,algures ,que além-rio tem lugar o paraíso. E que para lá chegar tenho que despir o meu fato de Homem. Que se abram já aqui as minhas entranhas ,que se rompam as artérias e que a vossa sede seja saciada ,que a mais amarela das gorduras alimente a vossa ganância ,a fome aplacada com a carne na ânsia. E se nada disso resultar ,vou erguer um santuário para te adorar ,com lágrimas sabor de limão ,com o encosto do teu peito no meu coração.