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Todos os dias,ao acordar,tenho a refrescante e ao mesmo tempo frustrante sensação que a palma da minha mão está aberta sobre o teu peito.Dentro dele está o teu coração.Sinto-o.E dentro do teu coração,um homem que transborda de alegria.Subitamente o teu peito queima a palma da minha mão e eu retiro-a.
Ao entrar na repartição os meus gestos mecânicos apoderam-se de mim.Não gosto de nenhuma daquelas pessoas.Sinto uma distância tremenda que tento conter mas que por vezes deixo sair às golfadas.Odeio quando se aproximam e encetam conversas circunstanciais que levam sempre à perda de tempo.
-Então tudo bem consigo?A sua família como vai?Tudo bem com a sua mãe?
Às vezes cometo gaffes.
-Tudo bem...como vai a sua mãe?.........Oh desculpe...eu não queria...eu não me lembrei...eu peço desculpa.
E depois tenho que fingir que partilho algum do seu desgosto e cada um vai à sua vida.
Pelo menos ganhei uma defesa...é raro prestar atenção ao que as pessoas me dizem...95% é lixo,mas e os outros 5%?O que realmente importa às vezes também se perde na insipiência de tudo o resto.Foi o que aconteceu connosco?
Sei perfeitamente porque ri o homem que habita no teu peito.
Ao deitar-me vejo-te numa rua negra,cuja perspectiva aponta para o insondável infinito.Caminhas para lá com as pernas abertas e a tremer muito,pintando o caminho por onde passas com um fino rasgo de sangue.Mesmo danificada continuas a seguir em frente.Porque é que eu não consigo?