quarta-feira, 11 de março de 2009

Vivendo a intensidade do menosprezo no canto do quarto, soltando-se de si convexa, com a face macia pousada no ombro quebrado, um coração que explode por dentro do peito ao ritmo das lembranças de vidro crepitante. A palma de cal, os olhos de lama fixos na nuca, as unhas; algumas dobradas para cima, outras cravadas no soalho negro. O sorriso pintado nos lábios, róseo-cristalino, puro e eterno.
Eles que não paravam de bailar à frente dela, eles que não paravam de copular à frente dela,ganindo por felicidade, expergindo fluidos de paixão que se lhe colavam às pálpebras. Nem pestanejava. E o sorriso mantivera-se sempre. Mas a carne não parava de se afundar e reaparecer untada em glória, quando logo o cheiro desaguou pelos poros da lascívia. O orgasmo trepou louco pelas paredes daquele quarto, como um animal acabado de sair de um opressivo e violento cativeiro; uivava, fincava as garras em tudo o que era palpável, libertava um muco peganhento, caminhava cego pela liberdade. O quarto ressoou, as paredes abriram fendas profundas e húmidas. Eles por fim pararam.
Vivendo a intensidade do menosprezo no canto do quarto, lavada em lágrimas, e armada com o seu sorriso róseo-cristalino, puro e eterno...

7 comentários:

Ginger disse...

Posso (pelo que te conheço)tirar deste texto duas conclusões... ambas provavelmente erradas.
No entanto, os amantes copulavam em frente a uma criança... ou copulavam em frente a uma terceira amante... algo me diz que é em frente de uma terceira amante... alguém posto de lado ao surgimento de coisa "melhor"... alguém mais quente e mais apaixonado.


Bonito texto, como sempre.


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Cu de Barbas disse...

"alguém posto de lado ao surgimento de coisa "melhor"... alguém mais quente e mais apaixonado." ;)

meldevespas disse...

De qualquer das maneiras parece ter sido bastante satisfatorio para todos ;D
Mais uma vez muuuuiito bem escrito, muito bonito e muuuito sensual.

Beijo Grande

Brown Eyes disse...

O sexo é um dos actos do ser humano animalesco e é assim que o descreves. A tua delineação tem garra e, apesar de bárbara e selvagem, tem sentimento. Ultimamente transmites, nos teus textos, uma vontade férrea de te libertares de algo, talvez um sentimento, que te aprisiona. Uma indecisão? Há uma mistura entre o bravio (o que tentas demonstrar) e o afectuoso (o que realmente és). Não sei se estou a ler correctamente as entrelinhas mas, uma certeza tenho, esta mistura explosiva faz milagres e é ela que nos aferrolha à tua escrita.

Cu de Barbas disse...

Brown já jogavas no totoloto :)

Viva a perspicácia mulheri :p

Ginger disse...

PORRA!!!

Agora ia tendo uma síncope!! :|

Good god!! :x

Anónimo disse...

Amigo temos aqui um escritor que nos apresiona às suas imagens, com uma leitura fácil e contagiante. Mais uma vez Parabéns.