segunda-feira, 15 de junho de 2009

lascívia...


Pega em mim e arrasta-me até ao banho. A candura nada tem a ver com a practicalidade. É-me prático receber em silêncio a forma despachada como sou tratado.
A banheira demora a encher, enquanto eu fico deitado no chão. Ela movimenta-se com um à vontade tão dela, pelo espaço exíguo que é aquela casa de banho. As pontas em renda da saia de uma negritude austera fazem-me cócegas na face. Evita-me como obstáculo que sou. Levanta uma perna sobre a minha cabeça. Respiro de olhos abertos naquela chaminé. A carne das coxas insuflada antes de mergulhar nas cuecas suadas e translúcidas. O telefone toca e com um golpe de ancas, a saia rodopia sobre si e remete-me, com uma ligeira brisa passageira, para a mácula do tecto branco.

terça-feira, 2 de junho de 2009

em volta da pirâmide...


Quero dormir e não consigo.
Quero tirar as curvas sinuosas que me enevoam o sono, como fuligem em brasa.
Quero girar sobre o meu falocentro até este explodir. Morrer. Definhar. Deixar-me em paz por entre esguichos de todas as cores.
Ele olha para mim meio de lado, ao desafio. Cresce como uma erva daninha em terreno baldio. Altivo e presunçoso, tem agora mais de um metro. Esguio como uma cobra faminta traça um arco no espaço de ranço e olha para mim de frente. Apresenta-se-me com ar ameaçador e eu arreganho-me sem dar por ela. Entreabro os lábios o suficiente para ele escorregar com graciosidade até beijar o naco de cal, ligeiramente raiado de sangue que apodrece na minha boca. E suavemente toca na minha úvula húmida fazendo-a tilintar incomodada.
A graciosidade de súbito se transforma em rispidez e ele, farto de conter a respiração, investe pela garganta adentro como um touro no meio de uma multidão, com raiva a lamber-lhe os olhos de fogo.
Acordei entre espasmos neuróticos, a cuspir bílis como um vulcão cansado. Estava escuro como breu e os gatos, no recato das trevas ,berravam e temperavam as carnes vivas na molheira que servia de passagem ao paraíso.
Tinha bílis a manchar-me os lençois, fome e ele de pé continuava a olhar pra mim.