sábado, 15 de março de 2008

red light...


Todos os dias,ao acordar,tenho a refrescante e ao mesmo tempo frustrante sensação que a palma da minha mão está aberta sobre o teu peito.Dentro dele está o teu coração.Sinto-o.E dentro do teu coração,um homem que transborda de alegria.Subitamente o teu peito queima a palma da minha mão e eu retiro-a.
Ao entrar na repartição os meus gestos mecânicos apoderam-se de mim.Não gosto de nenhuma daquelas pessoas.Sinto uma distância tremenda que tento conter mas que por vezes deixo sair às golfadas.Odeio quando se aproximam e encetam conversas circunstanciais que levam sempre à perda de tempo.
-Então tudo bem consigo?A sua família como vai?Tudo bem com a sua mãe?
Às vezes cometo gaffes.
-Tudo bem...como vai a sua mãe?.........Oh desculpe...eu não queria...eu não me lembrei...eu peço desculpa.
E depois tenho que fingir que partilho algum do seu desgosto e cada um vai à sua vida.
Pelo menos ganhei uma defesa...é raro prestar atenção ao que as pessoas me dizem...95% é lixo,mas e os outros 5%?O que realmente importa às vezes também se perde na insipiência de tudo o resto.Foi o que aconteceu connosco?
Sei perfeitamente porque ri o homem que habita no teu peito.
Ao deitar-me vejo-te numa rua negra,cuja perspectiva aponta para o insondável infinito.Caminhas para lá com as pernas abertas e a tremer muito,pintando o caminho por onde passas com um fino rasgo de sangue.Mesmo danificada continuas a seguir em frente.Porque é que eu não consigo?

terça-feira, 11 de março de 2008

Caro Data Vermibus...


Tenho vindo a alimentar este estranho hábito.Durmo com um cadáver,todos os dias.Todos os dias acordo de costas voltadas para ele e sempre me surpreendo com aquela frieza radiante.Já me devia ter habituado e conformado e tê-lo jogado na rua e ter voltado para a cama.Bem posso sonhar com uma casa vazia.
Às vezes esqueço-me dele,esqueço-me de o beijar,de o abraçar e de lhe dar o conforto que sempre encontra quando invade o meu leito.Quando assim é,esguicha-me com o pouco sangue que vai restando,gélido como...Por vezes alucino com o seu calor,mas o frio também queima.Deve ser isso,não pode ser outra coisa.
Tenho que voltar para a cama,o cadáver espera-me.

domingo, 9 de março de 2008

aquele melão por favor...


Entrei no supermercado,sabia que a fruta estava em promoção.Precisava para a minha salada de somente um melão.Era o ingrediente que faltava e para mim o mais importante.Lá fui eu passando os olhos de estante em estante...até que me deparei com uns de casca bem brilhante.O preço era convidativo.Apalpei-os e não me agradou.Eram rijos.E o sabor do interior não daria com certeza a alma necessária que eu queria para a minha sobremesa.Perscrutei mais um bocadinho e lá ao fundo no cantinho vejo um melão pálido,com má cara e mirradinho.Foi àquele que me dirigi.Era mais caro mas fiz a minha prova,e conclui...era aquele melão ali,e não o outro que daria à minha salada uma alma nova.

sexta-feira, 7 de março de 2008

limbo...


O coração palpita quando vejo o pecado,lá bem no fundo.
Reparo como fumega a cada passo.O tempo sustém toda a respiração em seu redor e o espaço esforça-se por diminuir a densidade das moléculas.O seu sorriso rasga-se no ar em tons de vermelho e branco,ao sabor de um pincel manso.
Minha mensageira da alegria.
Lágrimas tombam a teus pés e desapareces.
Estás cada vez mais viva dentro de mim.Aqui dentro os nossos corpos rebolam na relva verde pontilhada por morangos...e ao longe um bando de corvos.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Luz tépida...

Perco-me.
Perco-te.
Sinto os pêlos eléctricos.Parece que querem a todo o custo evitar tocar o meu ser.
Um de entre vários.
O único.
Reparo nos traços grossos,a carvão,que delimitam a realidade.
Pacientemente furiosos.
E há de tudo.
Mais e melhor.
Mais é pior.
Mais...